Renda-se aos protagonistas da luta anti-cancro, numa cozinha perto de si.
Um relatório elaborado em conjunto pela World Cancer Research Fund e o
American Institute for Cancer Research revelou dados, no mínimo,
revoltantes: trinta a quarenta por cento dos cancros apresenta, como pano
de fundo, um regime alimentar inadequado. O que é mais surpreendente, no
mau sentido, é que a ciência tem, cada vez mais, vindo a demonstrar que é
possível defendermo-nos de vários tipos de cancro através de uma
alimentação equilibrada, onde se destacam «ingredientes» específicos.
Por que teimamos em ignorar esta «chance» que nos é dada, diariamente,
cada vez que nos sentamos à mesa? Existem vários estudos que defendem que
uma dieta rica em espinafres é um factor de protecção contra o cancro do
pulmão e do estômago. Outros vegetais, como os brócolos, desempenham um
papel importante na prevenção do cancro da mama, do útero e do cólon, com
provas dadas cientificamente. O consumo assíduo de massas e cereais está,
por seu turno, relacionado a uma redução do risco de cancro da mama.
Conheça quais os alimentos que deve privilegiar na prevenção de doenças
cancerígenas:
Tomate
Para os apreciadores da cozinha italiana, esta é sempre uma boa notícia.
Molho de tomate e até ketchup são instrumentos preciosos na prevenção do
cancro, mais poderosos do que o tomate ingerido cru ou sob a forma de
sumo. Pois é, este fruto tem, na sua composição, vitaminas A, C, folato e
potássio, como o espinafre.
Mas a sua mais-valia é um antioxidante que se chama licopeno (que também
existe na melancia e no morango). O licopeno pode bloquear o início do
processo que está na origem de vários tipos de cancro, como o da próstata
e do estômago. Um estudo realizado em Harvard e que teve a duração de seis
anos permitiu concluir que os homens que consomem dez ou mais porções de
tomate (ou entre quatro a sete «doses» de produtos à base de tomate) por
semana, reduziram o risco de cancro da próstata em cerca de quarenta e
cinco por cento.
Cenoura
Um estudo publicado em Fevereiro conseguiu identificar, finalmente, o
composto da cenoura que é maioritariamente responsável pela sua acção
«anticancerígena». O nome deste é falcarinol, só existe na cenoura, e
trata-se de um pesticida natural que protege as cenouras de fungos. Embora
já se soubesse que a cenoura é composta por beta-caroteno, um precursor da
vitamina A que desempenha uma função protectora importante, os cientistas
de NewCastle pensam que a descoberta do falcarinol pode ter sido um passo
na direcção da criação de uma nova geração de fármacos contra o cancro.
Soja
O segredo da baixa incidência de cancro da próstata, da mama, do cólon e
da boca parece residir na dieta oriental, em que a soja representa um
lugar de relevo. As isoflavonas, os fitatos e os fitoesteróis, substâncias
que existem na soja, justificam que as propriedades desta sejam tão
aclamadas. E se torce o nariz aos tradicionais «rebentos», nada de «fugir
com o prato à soja»: esta pode ser consumida sob a forma de sumo, iogurte,
leite, salsichas, hambúrgueres, bolachas e sobremesas.
Ervilha
Mesmo com uma «estatura» tão pequena, a ervilha hospeda beta-caroteno e
luteína, outro antioxidante que exerce um efeito protector sobre as nossas
células. Muitos estudos demonstraram que quanto maior for o consumo de
vegetais e frutos com beta-caroteno (cenoura, beterraba, abacate, cereja,
entre outros) menor será a probabilidade de ter alguns tipos de cancro,
como o do estômago e do pulmão.
Uva
Especialistas da universidade de Harvard revelam que a ingestão regular
deste fruto, assim como da sua versão em sumo, constitui um factor de
protecção contra vários tipos de cancro. Também o morango, a amora e a
framboesa fazem parte deste grupo de elite.
Leite
O leite é uma fonte privilegiada de cálcio. Mas talvez não esteja a par
deste dado: a prevalência de vítimas de cancro é menor nos consumidores
inveterados de leite. E sabia que, de acordo com um estudo publicado no
International Journal of Cancer, as mulheres que bebem leite magro todos
os dias estão a construir uma barreira contra o cancro da mama?
Alho
O seu consumo regular está directamente associado a uma menor incidência
de cancro, pois pesquisas defendem que a alicina, a substância «aromática»
que existe no alho, inibe a formação de partículas cancerígenas que se
formam durante a digestão. Segundo um dos investigadores, comer um dente
de alho esmagado (cru ou cozinhado) é uma das medidas anticancro mais
fáceis de pôr em prática. E com a vantagem de, para quem não suporta o
carimbo do alho, ou seja, o cheiro, existir sob a forma de comprimidos ou
cápsulas.
Cebola
Quanto mais «ácidas» melhor, diz quem sabe. Referimo-nos aos
investigadores da Universidade de Cornell, que verificaram que as cebolas,
especialmente aquelas cujo sabor é mais pronunciado, são detentoras de uma
quantidade apreciável de flavonóides, substâncias que inibem o
desenvolvimento de células cancerígenas.
Laranja
Para além da abundância de vitamina C que existe na sua composição, à
semelhança do maracujá e do limão, a laranja é detentora de fitoquímicos,
substâncias que têm conquistado um lugar de destaque no combate a doenças
cancerígenas.
Chá
O seu percurso é milenar e ocupa o segundo lugar no ranking mundial das
bebidas mais consumidas (a seguir à água). Nos últimos anos, atribuiu-se
ao Chá o poder de prevenir doenças cardiovasculares, excesso de peso,
afecções da boca e diversos tipos de cancro. A chave para este sucesso
reside nos antioxidantes, que protegem o nosso organismo da acção dos
radicais livres – os vilões que lesam as nossas células, abrindo caminho
para o desenvolvimento de várias patologias.
Comecemos por um dos heterónimos, o chá verde. É possuidor de mais
antioxidantes do que o chá preto, pois o seu processo de fermentação é
muito curto, mantendo intactos estes elementos. Na linha da frente destes
antioxidantes encontram-se os polifenóis e sabe-se que apenas uma chávena
de chá verde contém entre cem a duzentos gramas desta substância. Ainda
dentro do grupo de polifenóis existe a catequina, que tem características
anti-cancerígenas e anti-inflamatórias. O chá verde foi eleito, de entre
todos os alimentos, o fornecedor, por excelência, de catequina.
Uma pesquisa realizada pela American Dietetic Association defende que
beber entre duas a quatro chávenas de chá verde por dia pode reduzir o
risco de vários tipos de cancro. Também especialistas do The American
Institute for Cancer Research referem que estudos de longa duração, em
regiões onde o consumo de chá verde é elevado, revelam a existência de uma
menor taxa de incidência de cancro do cólon, do pâncreas, do estômago e do
esófago. Afirmam ainda que a ingestão de chá verde retarda ou previne
totalmente o desenvolvimento de cancro da mama, do cólon e do fígado,
oferecendo um efeito protector semelhante em relação ao cancro do pulmão,
da pele e do aparelho digestivo.
O tradicional chá preto (também denominado chá vermelho na China), embora
tenha menos antioxidantes do que o seu irmão verde e obrigue a um consumo
moderado, por ter cafeína, constitui igualmente um importante escudo
protector contra o cancro. Aliás, várias pesquisas apuraram que o chá
verde e o chá preto têm dez vezes mais antioxidantes do que os vegetais e
a fruta.
Raro e só agora mais conhecido entre nós, o chá branco ou White Peony
promete dar que falar. De acordo com estudos levados a cabo pelo Linus
Pauling Institute of Oregon State University (das poucas pesquisas que já
existem sobre esta variedade de chá), julga-se que o chá branco seja o
mais puro de toda a família, «exibindo» o triplo de substâncias
antioxidantes do chá verde.
O tradicional chá de limão (com um bocadinho de casca do fruto),
considerado tradicionalmente como uma boa forma de ajudar a aliviar dores
de garganta e outras queixas associadas à gripe, tem outros trunfos na
manga: actua na prevenção do cancro da pele! Uma pesquisa da Universidade
do Arizona, que envolveu quatrocentas e cinquenta pessoas, apurou que
aquelas que não tinham cancro da pele eram precisamente as mesmas que
bebiam regularmente chá de limão e chá preto. Os cientistas afirmaram
ainda que o efeito preventivo do primeiro rondava os setenta por cento,
sendo atribuído um valor de quarenta por cento à acção do chá preto.
Um pequeno aparte: não obstante todos os benefícios do chá, deve existir
moderação na sua ingestão, em especial na gravidez.